sexta-feira, novembro 17, 2006

Eu a vejo quase todas as manhãs. Não é exatamente bonita. Aliás, ela é de uma feiúra estranha como se carregasse uma boniteza espalhada em si, nos gestos e não nos traços exatamente. Não importa. Importa é que a vejo acompanhada perenemente pelo seu cão.

Um pastor Alemão com cara de bom companheiro. E o é. Eu vejo. Olha-a muito, encaixa seu focinho entre os joelhos dela, brinca com ela, gane querendo dengo. Ela também, essa minha vizinha de uns quarenta e vividos anos, brinca de não-solidão com esse cachorro específico; gosta dele, ri; Não duque, assim não, deixa o moço, Duque, me espera. Não vá na minha frente assim, cuidado com o carro, menino. Ele a olha como quem agradece. E vão os dois, não em vão, pelas ruas de Copacabana sob o sol. felizes que só vendo. Eu vejo.

Ela é camelô; nos encontramos no elevador e eu: - Vocês se divertem tanto, é tão bonito. - É, nos conhecemos na rua. Ele olhou pra mim bem nos meus olhos. Eu estava trabalhando. Vi logo que era um cão bem cuidado fisicamente mas faltava-lhe carinho.
Deixei minhas bugigangas (ela vende coisas que querem imitar jóias antigas) por não sei quanto tempo e fiquei agachada na calçada na Avenida Nossa Senhora, só namorando ele. Decidimos que ele viveria comigo. Naturalmente. Tudo aconteceu "naturalemente", ela frisou, como se quisesse dissipar de mim qualquer sombra de suspeita de um possível roubo. Noutro dia, no mesmo elevador, ela com seu carrinho de balangandãs, eu e Duque.

O elevador apertado e ela continuou femininamente a conversa do último elevador nosso: Tenho certeza que ele é de Câncer. É muito sensível. Só falta falar. Né, Duque?
...ele não é lindo? Eu disse: Lindíssimo. E você que signo é? - Ah, sou Capricórnio mas com ascendente de Câncer, combina sim. Eu vejo Duque lambendo as mãos dela, as magras mãos cujos dedos ela oferecia de propósito e distraidamente a mordida dele.
Eu olho admirando receosa por conta dos afiados dentes dele.
Quase não entendo de cães. Você tem medo...ô não ofenda ele; Duque entende pensamentos e não gostou do que você pensou. Jamais me morderia, jamais me trairia. Né, Duque? Senti o pensamento de Duque latindo que jamais a trairia. Achei bonito. Chegamos. Tchau, bom trabalho. Tchau Duque. Fui para rua pensando longamente nos dois. Depois pensei nos mistérios da astrologia e perdi o fio do meu pensamento.
Ao final da tarde avistei pela Janela Duque e Angela indo ver o crepúsculo na praia.
Depois vi os dois voltando sorridentes e caninos, sob a noite estrelada; ela com fitas de vídeo penduradas ao braço; sempre conversando com ele. Tenho inveja de Angela. This is the true.
O animal que eu quero não mora comigo, não almoça mais comigo, nçao brinca mais, não me telefona, não me advinhas os pensamentos, não me acompanha ao crepúsculo, não gane querendo dengo, nossos signos parecem não mais combinar. O animal que eu quero, pensa demais e por isso não passeia mais comigo.
Mon Animal
Elisa Lucinda

5 comentários:

Anônimo disse...

É o que eu digo, pensar muito nunca é bom, como dizia uma amiga minha: Pensar demais faz mal. =D

E essa moça do texto, não sei se vc sabe, mas sou eu. Não gosta de cachorros e é Capricórnio ascendente em Câncer! ;)

Beijos!!

Fefa Liguori disse...

Pensar demais faz mal mesmo! :D

Agora....é você? :O :O :O

Adoro esse texto, o melhor mesmo é ouvir a Elisa Lucinda interpretando ele.

beijos!

Anônimo disse...

Achei o texto muito bom!! Mas... pelo que entendi, a mulher do texto que é capricornio com ascendente em cancer GOSTA de cachorro...

Fefa Liguori disse...

Isso, isso, isso Má....

Vc entendeu bem....a mulher de Capricórnio com ascendente em Câncer é a dona do Cachorro! Viu, Dê? Acho que vc é a outra, que não gosta do cachorro, mas não sabemos que signo é :D

Obrigada pelo coment Má!

beijos!

Anônimo disse...

Bom, podemos resolver a situação... É só substituir no texto os cachorros pelos gatos e tá tudo certo!